sábado, 17 de abril de 2010

Vanitas vanitatum, homini vanitas


Se os que publicam sua obra e os que a não publicam são todos vaidosos, também o é quem não a escreve. Mas Don Juan teria problemas com isso??

sábado, 27 de março de 2010

O eterno término do mesmo

Meu amigo Adriano Drummond disse-me ontem, por msn, que pensa em dar continuidade à escrita de um romance, cujo primeiro capítulo narra a cena de um bem-sucedido e querido professor de literatura, que, numa sala de cursinho pré-vestibular, após estranhamente lecionar de modo inacessível a todos os alunos, suicida-se com um tiro na cabeça.

Interpretei a passagem (coisa que escapou ao próprio autor) como o último suspiro de revolta da Literatura, consciente de seu exílio definitivo no mundo atual.

- Die Literatur ist tot, Adriano - disse-lhe eu, em paródia a Nietzsche. Só que haveria a incongruência de sua intenção de escrever o romance, o que, de alguma maneira, fala de uma esperança de ressurreição... ou até de não-morte. Não escreva essa obra: o silêncio é o registro adequado dela.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O convidado inesperado

Como poderei dizer-vos, Comendador, – e vós o crerdes – que, eu sendo Don Juan, nunca conquistei sequer uma mulher de minhas mil e três mulheres? Que retórica haverá capaz de um sortilégio tal: comprovar essa verdade? Pois crede: se eu falhar nesse propósito, eis mais uma mera emanação de minha coerência existencial. Hei-de ser entendido sempre no Impossível.

O mais frustrado e último dos homens (quem diria) chama-se Don Juan. O aristocrata, tão célebre, tão lendário, senão mítico... inveja ou desejo em outros de ser eu... Comendador, sou eu, de fato. Sou o desejo em outros de ser eu, a minha inveja de mim mesmo.

E foram mil e três mulheres que nunca alcancei conquistar. Destaco: nunca.

É de surpreender-se, não? – mil e três mulheres não seduzidas! O número chega a parecer fantasioso. O que talvez mais intrigue nem seja a amplitude do “mil” – e, sim, a aresta que é o “três”. Se “mil”, por que “e três”? Caminho para a verdade é a exatidão. O arredondamento, ao lado desta, apenas se pode ver como o prenúncio da mentira. O derradeiro algarismo imprime, portanto, o ar do que é preciso e, assim, convence. Só não explica por que não seduzi nem três nem mil... nenhuma mulher.
Comendador, vós me pedis que me arrependa disso? Sabei que a natureza de Don Juan, a minha natureza, com efeito, me perde neste abismo: a impossibilidade de fazer. Por que eu seduziria?

Já pensastes na diferença entre o sucesso e o malogro? Não falo das semelhanças. Por exemplo, a permanência do sentimento insatisfeito em ambos. Quem, após ter conquistado o mundo, não quererá ainda possuir uma boneca? Sinceramente, a satisfação jamais esteve em minhas buscas. Aliás, que busco eu, Comendador? Eu, Don Juan, poderia sustentar essas ilusões? Se busco algo, este é o vazio.